O Espiritismo é um conjunto de princípios e leis
que foram codificados por Allan Kardec em cinco livros referenciados como Obras
Básicas. Segue um resumo extraído e adaptado do Livro dos Espíritos, o primeiro
dos livros de Kardec.
Resumo da
Doutrina Espírita
Deus é eterno, imutável, imaterial, único,
todo-poderoso, soberanamente justo e bom. Criou o universo, que compreende
todos os seres animados e inanimados, materiais e imateriais.
Os seres materiais constituem o mundo visível ou corporal; os seres imateriais,
o mundo invisível ou espiritual, ou seja, dos Espíritos.
O mundo espiritual é o mundo normal, primitivo, eterno, preexistindo e
sobrevivendo a tudo.
O mundo corporal é apenas secundário, poderia deixar de existir ou nunca ter
existido, sem alterar a essência do mundo espiritual.
O Espírito veste temporariamente um corpo material perecível, cuja destruição
pela morte lhes devolve a liberdade.
A alma é um Espírito encarnado, sendo o corpo apenas o seu envoltório.
O homem é constituído por: 1) corpo físico, 2) Espírito encarnado neste corpo
físico e 3) por um corpo espiritual, denominado perispírito que é o laço que
une o Espírito ao corpo físico e é uma espécie de envoltório semimaterial do
Espírito.
A morte é a destruição do envoltório mais grosseiro, o corpo físico. O Espírito
conserva o perispírito, que constitui para ele um corpo etéreo, invisível para
nós no estado normal, mas que pode tornar-se algumas vezes visível e mesmo
tangível, como ocorre no fenômeno das aparições.
O Espírito não é, portanto, um ser abstrato, indefinido, que somente o
pensamento pode conceber; é um ser real, definido, que, em alguns casos, pode
ser reconhecido, avaliado pelos sentidos da visão, da audição e do tato.
Os Espíritos pertencem a diferentes classes e não são iguais em poder,
inteligência, saber e nem em moralidade. Os da primeira ordem são os Espíritos
superiores, que se distinguem dos outros por sua perfeição, seus conhecimentos,
sua proximidade de Deus, pela pureza de seus sentimentos e seu amor ao bem: são
os anjos ou Espíritos puros. Os das outras classes não atingiram ainda essa
perfeição; os das classes inferiores são inclinados à maioria das nossas
paixões: ao ódio, à inveja, ao ciúme, ao orgulho, etc. Eles se satisfazem no
mal; entre eles há os que não são nem muito bons nem muito maus, são mais
trapaceiros e importunos do que maus; a malícia e a irresponsabilidade parecem
ser sua diversão: são os Espíritos desajuizados ou levianos.
Os Espíritos não pertencem perpetuamente à mesma ordem. Todos melhoram ao
passar pelos diferentes graus da hierarquia espírita. Esse progresso ocorre
pela encarnação. Para alguns é imposta como uma nova oportunidade de reparar as
faltas e os erros de vidas passadas. Para outros a encarnação é dada como
missão. A vida material é uma prova que devem suportar várias vezes, até que
tenham atingido a perfeição absoluta. É uma espécie de exame severo ou de
depuração, de onde saem mais ou menos purificados, de acordo com suas ações ao
longo da vida.
O Espírito deve passar por várias encarnações. Disso resulta que todos nós
tivemos muitas existências e que ainda teremos outras que, aos poucos, nos
aperfeiçoarão, seja na Terra, seja em outros mundos.
A encarnação dos Espíritos se dá sempre na espécie humana; é um erro acreditar
que a alma ou o Espírito possa encarnar no corpo de um animal.
As diferentes existências corporais do Espírito são sempre progressivas e o
Espírito nunca retrocede, mas o tempo necessário para progredir depende dos
esforços de cada um para chegar à perfeição. As qualidades da alma, isto é, as
qualidades morais, são as do Espírito que está encarnado em nós; desse modo, o
homem de bem é a encarnação do bom Espírito, e o homem perverso a de um
Espírito impuro.
A alma tinha sua individualidade antes de sua encarnação e a conserva depois
que se separa do corpo.
Na sua reentrada no mundo dos Espíritos, a alma reencontra todos aqueles que
conheceu na Terra e todas as suas existências anteriores desfilam na sua
memória com a lembrança de todo o bem e de todo o mal que fez.
O Espírito, quando encarnado, está sob a influência da matéria. O homem que
supera essa influência pela elevação e pela depuração de sua alma aproxima-se
dos bons Espíritos, com os quais estará um dia. Aquele que se deixa dominar
pelas más paixões e coloca todas as alegrias da sua existência na satisfação
dos apetites grosseiros se aproxima dos Espíritos impuros, porque nele
predomina a natureza animal.
Os Espíritos encarnados habitam os diferentes globos do universo.
Os Espíritos não encarnados não ocupam uma região determinada e localizada;
estão por todos os lugares no espaço e ao nosso lado, vendo-nos numa presença
contínua. Ainda assim formam agrupamentos conforme seu estado de
desenvolvimento. É toda uma população invisível que se agita ao nosso redor.
Os Espíritos exercem sobre o mundo moral e o mundo físico uma ação incessante.
Eles agem sobre a matéria e o pensamento e constituem uma das forças da
natureza, causa determinante de uma multidão de fenômenos até agora
inexplicável ou mal explicada e que apenas encontram esclarecimento racional no
Espiritismo.
As relações dos Espíritos com os homens são constantes. Os bons Espíritos nos
atraem e estimulam para o bem, sustentando-nos nas provações da vida e
ajudando-nos a suportá-las com coragem e resignação. Os maus nos sugestionam
para o mal; é um prazer para eles nos ver fracassar e nos assemelharmos a eles.
As comunicações dos Espíritos com os homens são ocultas ou ostensivas. As
comunicações ocultas ocorrem pela influência boa ou má que exercem sobre nós
sem o sabermos; cabe ao nosso julgamento discernir as boas das más inspirações.
As comunicações ostensivas ocorrem por meio da escrita, da palavra ou outras
manifestações materiais, muitas vezes por médiuns que lhes servem de
instrumento.
A moral dos Espíritos superiores se resume, como a de Cristo, neste ensinamento
evangélico: 'Fazer aos outros o que quereríamos que os outros nos fizessem', ou
seja, fazer o bem e não o mal. O homem encontra neste princípio a regra
universal de conduta, mesmo para as suas menores ações.
Eles nos ensinam que o egoísmo, o orgulho e a sensualidade são paixões que nos
aproximam da natureza animal, prendendo-nos à matéria; que o homem que se
desliga da matéria já neste mundo, desprezando as futilidades mundanas e amando
o próximo, se aproxima da natureza espiritual; que cada um de nós deve se
tornar útil segundo as capacidades e os meios que Deus nos colocou nas mãos
para nos provar; que o forte e o poderoso devem apoio e proteção ao fraco, pois
aquele que abusa de sua força e de seu poder para oprimir seu semelhante
transgride a Lei de Deus.
Ensinam que no mundo dos Espíritos nada pode ser escondido, o hipócrita será
desmascarado e todas as suas baixezas descobertas; que a presença inevitável,
em todos os instantes, daqueles com quem agimos mal é um dos castigos que nos
estão reservados; que ao estado de inferioridade e de superioridade dos
Espíritos equivalem punições e prazeres que desconhecemos na Terra.
Ensinam também que não há faltas imperdoáveis que não possam ser apagadas. As
oportunidades de reparar os erros de vidas passadas sempre serão permitidas
através da reencarnação. Nas sucessivas existências, mediante os seus esforços
e desejos de melhoria no caminho do progresso, o homem avança sempre e alcança
a perfeição, sua destinação final.